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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Framboesa

Terça à tarde havia comprado duas caixinhas de framboesas. Não foram baratas não, mas estavam lindas de matar, e além disso, framboesas e cerejas estão os sabores que exercem feitiço sobre mim. Não tenho poder contra elas. No Brasil, dava pra aguentar, pois eram frutas importadas e pouco saborosas. Mas aqui, as framboesas são locais... Lá em Styrkesnes estava lotado de framboesa selvagem, mas a sogra é MUITO chata nesse aspecto e não deixou a gente colher, dizendo que estavam em terras de outros, e que pertencias à eles. Oras, que tem um framboesal à beira da estrada pode reclamar que os outros as colham? Então, o plano era voltar pro chalé hoje pra colher tudo o que eu conseguisse, sem a sogra pra se meter. Mas aí veio a notícia do trabalho, então os planos foram cancelados. E mesmo antes de saber do cancelamento da potencial colheita, comprei... Não aguentei.

E depois, à tardinha, assistindo a dose diária de televisão com Lars, vimos um programa na BBC Lifestyle chamado Seasonally Scotish. Ela fez uma torta de avelãs com framboesa. Eu não tinha avelãs em casa... Anotei a receita, e pensei em fazê-la outra hora.

Na quarta acordei e antes mesmo de ligar o computador, enquanto tomava meu café, resolvi tacá-las na panela e fazer uma geléia. Estou armazenando goodies no meu armário. Já tenho compota de cerejas com aquavit, compota de nectarinas, e agora a geléia.


Então, NÃO seguindo os preceitos de meu livrinho Perfect Preserves, usei a proporção de uma parte de fruta para meia parte de açúcar. Também usei um pouquinho de pectina, pois a framboesa se liquefaz no processo. Justamente por isso, quase não adicionei água. Foi menos de meio copo no total, só pra começar o processo mesmo. O livro recomenda uma parte de açúcar pra uma de fruta! Muito doce. Por isso mesmo, depois de pronta a geléia, usei o processo térmico de preservação. A jarra esterilizada (fervida mesmo, por uns 20 minutos, e deixada pra secar (eu seco com um pano de prato limpo) ainda quente é preenchida com a geléia quente, fechada e selada, e depois tudo retorna à fervura brava, por uns 5 ou 10 minutos.

Como o açúcar já preserva (e não é necessário usar uma parte de açúcar pra uma de fruta pra isso, mas é preciso usar mais do que eu gostaria), o aquecimento é só pra garantir. Depois guardar num lugar fresco e seco, de preferência com pouca luz. Ainda assim pode ocorrer a deterioração ou a esporulação de fungos (eles formam esporos e voltam a "viver" uma vez que as condições do meio permitam). Se deteriorar, você notará a formação de um filme esbranquiçado na superfície. Vamos esperar que a minha sobreviva, pois fui super cuidadosa...

Quando visitei uns amigos no Canadá, em Saskatchewan, lá no meio das pradarias (lá faz frio pra burro no inverno, mais que aqui, se bobear), fiquei louca de ver que eles tinham na fazenda um porãozinho cheio de conservas das coisas que eles produziam no verão. Pêssegos, tomates, entre muitas outras coisas. Sempre quis voltar lá num verão e acompanhar o processo. Agora nem mais lá eles vivem mais... Mas o porãozinho não me sai da cabeça. Essa idéia romântica de formiguinha que colhe no verão pra não passar fome no inverno!

Então, pra minha surpresa, depois que fiz a geléia e ela tava envidraçada e fervendo com vidro e tudo, vim abrir a net e vi que Claudia, minha ídola da net culinária, tinha feito um post sobre a mesmíssima coisa!

Mas então, depois que recebi a notícia do emprego na quarta mesmo, resolvi fazer a tortacom avelãs. Lars tinha saído pra praticar tiro (em Outubro começa a temporada de caça ao alce), e pedi que ele parasse no mercado e comprasse mais duas caixas de framboesas e as avelãs. A receita é muito, muito simples, mas o tempo de espera me matou.

Para a massa
125 g de manteiga gelada
75 gramas de farinha de trigo
75 g de avelã
25 g açúcar de confeiteiro

Para o recheio
500 g de framboesas
75 a 125 g de açúcar de confeiteiro
1 colher de sopa de araruta (difícil de achar, pode ser substituída por Maizena)
125 de licor de cereja ou conhaque ou vodka sabor framboesa (Smirnoff ou Stoli Raspberry) - eu não usei nada

No processador, misture os ingredientes da massa até que ela esteja com o aspecto de uma farofa grossa. Então despeje numa forma (pode ser de fundo falso, se quiser desenformar) untada com óleo. Espalhe e aperte a farofa pela forma, distibuindo por igual. Refrigere por uma hora, e então leve ao forno 180 graus até que esteja dourada.


Eu fiz duas porque as minhas formas eram pequenas, e ainda assim sobrou. Emfim, depois de assadas, deixe esfriar.

Fiz meu recheio enquanto a torta descansava na geladeira. Coloque as framboesas com o açúcar (e o álcool, se decidir usar). Cozinhe até consitência de geléia,por uns 20 minutos. Deixe esfriar um pouco. Dissolva o amido de sua escolha em um pouco de água. Coloque um pouco da geléia quente na mistura, e volte o conteúdo todo pra panela de geléia. Deixe ferver por uns 10 minutos, em fogo baixo, e está pronta. É só despejar a geléia nas tortas já frias. Refigere antes de servir.

E sirva com chantilly ou iogurte natural... E ainda, como sobrou massa pra mim, eu assei 4 biscoitinhos. 2 deles eu esfarelei por cima da torta pra decorar. Os outros dois foram testes pra mais biscoitinhos de natal. Ficaram deliciosos!


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