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domingo, 10 de abril de 2011

O verdadeiro sabor escandinavo (ressucitando o bloguinho)

No outro blog havia subido um vídeo que me dei o trabalho de subir do canal de TV pro Youtube. É um programa norueguês sobre sabores do norte, mais precisamente Escandinávia. No primeiro episódio (que pode ser visto no outro blog ou no meu canal do Youtube) os peixes foram o destaque. Bacalhau e skrei na Noruega, o impressionante trechinho com halibuts (kveite em norueguês, ou   halibute em português) praticamante pulando pra fora do buraco no gelo na Groelândia,  lagostins nas ilhas Faro... Entre tudo isso, tem dois fabulosos chefs dinamarqueses mandnado ver na gastronomia molecular (eu tenho aqui pra mim que sejam os caras do restaurante Noma, de Copenhagen, hoje o melhor do mundo), fazendo coisas de chorar de lindas - e apetitosas.

O segundo episódio é sobre os sabores selvagens - e esse episódio dá muito a entender sobre os hábitos alimentares dos escandinavos (mais os noruegueses e suecos, e especialmente mais foradas grandes cidades mesmo). De todas as frutinhas do bosque (mirtilos, framboesas polares, framboesas, morangos selvagens, arandanos, oxicocos, gorselhas pretas e vermelhas e mais outras que nem é possível nomear em português (rognebær, krukkebær, blokkebær, etc,etc,etc) aos cogumelos selvagens (trumpetes e chanterelles, entre outros) e às carnes de caça, como alce, veado, rena, urso e as aves como  rype, ou galo-silvestre em português, e patos e gansos selvagens.

Você pode até aí pensando "tadinhos dos bichinhos", mas o fato é que a caça é extremamente regulada e os animais são consumidos quase que 100% (utiliza-se as peles também), com profundo respeito pelo que se caçou, como faziam os ancestrais deles há séculos e séculos. Além disso, os animais tiveram uma vida tranquila e feliz, e morreram com mais diginidade do que o porquinho ou a vaquinha ou o franguinho de abatedouros que você come quase ou  todo dia.

Entre linguiças e salamis, corações e línguas defumados, patês de fígado, aproiveita-se o animal inteiro, mesmo. E de todos, o único que ainda não provei foi o tal do urso, primeiro porque vivem na Suécia, segundo porque é caríssimo (tem um post aqui sobre isso).

Como disse antes, não precisa entender o que o sujeito fala pra entender o grau de delícia das gourmandises que ele apresenta, além das fabulosas paisagens outonais em todo o norte da Europa. Mas só pra matar a curisosidade, os chefs experimentais estão preparando carne de bisão europeu (musk ox) com caldo de bisão e purê de castanhas...


Em breve volto com os outros episódios - ou o link pra eles, se alguém se interessa.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Quando Jamaica e Noruega (e um pouquinho do Brasil) se encontram dentro de um forno...

Pelo final do último post deste abandonado bloguinho, é possível imaginar que nosso freezer esteja lotado de alce, ainda. Sim, está. Tudo que eu normalmente faria com carne moída de vaca eu faço com carne de alce moída. Acho que já expliquei aqui, mas a qualidade da carne moída na Noruega é péssima. A carne moída é pura gordura e tem um sabor horroroso. A carne de alce é magra, e quando moemos é carne pura.

Já fazia um tempo que eu andava com uma vontade animal de comer jamaican beef patties. São um tipo de pastel assado, que tem a massa parecida com a massa de empanadas argentinas, mas leva curry, e são amarelinhos. O recheio pode ser do que a imaginação mandar, mas os mais comuns são carne e frango. Quando o Freedom of the Seas aportava em Montego Bay, na Jamaica, todo mundo descambava do navio pra comer patties numa barraquinha no terminal portuário. Eram divinas, excelentes... Às vezes os oficiais também desciam na hora do almoço. Eu costumava trazê-las a bordo pro Lars... Comi patties também pelas ruas de Ocho Rios e mesmo em Miami, num botequinho caribenho no centro, perto da Flagler St.

Outro dia achei um monte de recheitas na Internet, faltava só o tempo. Hoje foi o dia, domingão de ressaquinha depois de um sabadão de balada em Bodø com os amigos do Lars.

Segui a receita quase à risca. O meu shortening escolhido (já que shortening é sinônimo de gordura em receitas de massa) foi manteiga, mas poderia ter usado por exemplo banha de porco ou gordura vegetal (éééééca!). Misturei a gordura e farinha no processador, é bem mais rápido e faz menos sujeira... Pro recheio, ao invés de carne de vaca usei a de alce, e ao invés de farinha de rosca (ou farelo de pão) usei farinha de milho do Brasil que ainda tinha em casa. Como não tinha pimenta Scotch Bonnet usei uma pimenta fresca produzida na Holanda, a única que achei no mercado ontem. O tomilho seco eu aboli e não fez falta...

A receita original está em inglês, então vou facilitar e colocar uma tradução expressa aqui...

Massa
2 xícaras de farinha de trigo peneirada
1/2 colher de chá de sal
1/2 colher de chá de curry em pó
1/4 de xícara de gordura (usei manteiga)
1/4 de xícara de margarina
1/3 de xícara de ágia gelada

Misture a farinha peneirada, o sal e curry numa tigela (se quiser, use o processador). Adicione a gordurae margarina e misture bem até ficar com textura de uma farofa. Adicione a água pra formar uma massa firme. Enfarinhe uma superfície lisa e abra a massa fininha (quanto é 1/8 de polegada, jisuis?). Corte círculos de 8 polegadas (usei um pires na verdade). Cubra com papel manteiga ou um pano úmido até estar pronta pra usar. A massa pode ser feita um dia antes e ser guardada na geladeira. Se o fizer, retire-a da geladeira 15 minutos antes de usar.

Recheio
2 colheres de sopa de óleo (usoazeite aromatizado com alho e alecrim sempre que cozinho)
1 cebola pequena finamente picada
250 g de carne moída
1/2 colher de chá de curry em pó
1/2 colher de chá de tomilho seco (não usei)
pimenta fresca a gosto
1/4 de xícara de farelo de pão ou farinha de rosca
1/3 de xícara de caldo de carne

Numa panela de fundo grosso, refoque a cebola com a pimenta no óleo até que a cebola esteja transparente. Adicione a carne, o curry, tempere com sal e pimenta e deixe a carne dourar um pouco. Adicione o caldo de carne e o farelo de pão e misture bem até que o líquido seja absorvido. A mistura deve ficar úmida mas sem escorrer água.

Coloque a mistura (umas duascolheres de sopa) numa metade de cada círculo de massa. Dobre a outra metade por cima da carne formando uma meia-lua, pincele o encontro de massa com água e aperte com um garfo. Pincele todos os patties com uma mistura de 1 ovo e 1/4 de xícara de água.

Asse em forno alto (200 graus) até que estejam douradinhos...


Meus formatinhos ficaram bem toscos, mas que ficaram uma dilíça, isso ficaram... Rendeu 10 certinho, como mandava a receita.

Servi com um saladão com tomate, cenoura, salsão, maçã verde, alface romana e beterraba, temperadinhos com azeite, vinagre e raiz forte. Foi tudo! E ponha um vidro de pimenta ma mesa, quanto mais ardentes, melhores as patties.

Pra quem quiser ir mais a fundo, existem trilhares de vídeos e receitas na net, algumas até bem mais interessantes que essa, e que dão inclusive muito mais trabalho. Mas nos contentamos com essa, que era só pra matar a saudade da Jamaica mesmo.

Ya, man, vi spis patty! Pra terminar de matar a saudade da Jamaica, ouça o vídeo abaixo... Patois purinho da Silva! Que delícia! Irie, Man!