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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Blåbærpai, sursild e sopa paraguaia

Na Segunda, como eu voltei do chalé lotada de mirtilos (blueberries em inglês, blåbær em noruga), resolvi fazer a torta de mirtilos da Claudia do Sabor Saudade. Antes do almojantar eu e Lars fomos às compras e aproveitei pra providenciar tudo que faltava - amêndoas inteiras, açúcar de confeiteiro, ovos, etc. Deu um trabalhinho fazer a farinha de amêndoas, e não sei se tive a paciência de fazer tudo como manda o figurino, mas tava bom pra mim. É preciso comprar amêndoas inteiras com casca (a pele, não a casca dura). Depois aferventá-las por alguns minutos, e enquanto esfriam, é só espremer e as amêndoas pulam de dentro das cascas. Depois fazer a farinha no processador com açúcar de confeiteiro. Mas no total, levou menos de uma hora, pois eram apenas 250 g de amêndoas. Me lembrei dos dias que trabalhava como confeiteira em São Paulo, no extinto restaurante Mellão Cucina D'Auttore. Eu vivia pelando amêndoa, kilos e kilos... Ficava com os dedos até enrugados... Mas, enquanto fazia isso, deixei meus filés de sild (herring ou arenque) na de molho em água.

A torta de mitilos não ficou linda não, porque acho que o forno estava um pouquinho quente além da conta, e ela ficou morenona. Mas ficou deliciosa assim mesmo. Não tirei fotos, porque o post e as fotos da Claudia estão muito mais legais, então confira lá. Mas comemos ela quentinha, saída do forno, e tava deliciosa. No dia seguinte ficou melhor ainda.


Sursild é o famoso pickles de arenque que os escandinavos tanto gostam. Sur significa azedo, e sild é o peixe. Creio que esse prato nasceu também na Idade Média ou antes, como forma de preservar o peixe pro inverno. Existem muitas variações do mesmo tema. Com mostarda, com tomates, as especiarias usadas também variam. O melhor que provei até hoje foi um comprado na Suécia ano passado, durante minhas férias aqui. Tinha dill na conserva. Mas como a Noruega é a terra do mínimo esforço, você até compra já pronto no mercado um pacotinho de especiarias chamado sildkrydder. Foi esse da foto que eu comprei. Eu nem tinha idéia de quanto é fácil prepará-lo, afinal é uma conserva. É difícil achar arenque fresco por aqui, mas encontro aos montes os filézinhos salgados ou defumados. É o salgado que deve ser usado para a conserva.

Usei um pacote de spekesildfillet como esse ao lado, embora de outra marca, a Lofoten (crédito pra foto ao clicar nela). Eu já gosto do arenque assim, salgado, mas é muuuitoooo salgado, então é preciso deixar de molho por algumas horas antes de comer assim mesmo, ou de fazer a conserva. Os meus filés ficaram de molho por umas duas horas e meia, e troquei a água três vezes. Então cortei os filés no sentido do comprimento, em fatias de mais ou menos 1,5 cm de espessura.

1 pacote de arenque salgado ou uns 5 filezinhos
100 ml de vinagre branco (aqui eles recomendam um vinagre de 7% de concentração, a marca é Idun
200 ml de água
a medida equivalente à 300 ml de açúcar
2 cebolas picadas (eu gosto com bastante cebola)
1 pacotinho de especiarias, ou se não tiver, use 1 colher de sopa de pimenta do reino, uns 4 cravos, 1 colher de sopa de sementes de mostarda, uma folha de louro, e se quiser pode por dill fresco e outras ervas

Num recipiente com tampa, coloque o peixe picado e a cebola por cima. Em outro recipiente, misture a água com vinagre e açúcar, e mexa até o açúcar estar dissolvido por completo. Então acresccente as especiarias, e despeje o líquido por cima do peixe com cebolas. Tampe e refrigere por ao menos um dia. A cada dia que passa a conserva fica mais adocicada e com o sabor mais característico. Eu já transferi a minha conserva para um pote menor. Ficou muito bom, e melhor que os comprados prontos. O preço, entretando, ficou mais ou menos na mesma. O peixe custou 68 kroner, enquanto cada potinho de sild no mercado custa em torno de 30 kroner Entretanto, os potinhos do supermercado vem com menos quantidade, então deu na mesma. Mas o sabor ganhou!

Por fim, o desejo de longa data de comer sopa paraguaia. A sopa paraguaia é um prato típico do Mato Grosso do Sul. O porque do nome é controverso... Alguns dizem que a sopa nasceu pra ser um caldo, mas deu errado. Já ouvi também (e ói que no Pantanal o pessoal sabe contar uma estória, vôtche) que assim como a chipa (um pão de queijo de polvilho doce e cru), a sopa apareceu por conta do jejum da Sexta-feira Santa, e as duas receitas eram preparadas no dia anterior... Sei lá qual a verdade, mas a sopa paraguaia é uma torta feita de milho verde, cebolas e queijo, basicamente. A última vez que comi sopa foi ainda no Pantanal, em 2003. No Natal passado, quando eu e Lars estivemos no Pantanal, não comi sopa - foi só churrasco mesmo...

De umas semanas pra cá, tenho morrido de vontade... Tenho um livro maravilhoso de receitas chamado "Cheiros e Sabores de Mato Grosso do Sul", escrito por uma senhora fabulosa chamada Iracema Sampaio, que eu tive a oportunidade de conhecer. Contratei-a para dar um treinamento à minha equipe lá na Caiman. Então, só que o livro ficou em São Paulo... Daí procurei receitas na net. Primeiro o programa da Ana Maria BrEga, que eu odeio, além de ter lido no Rainhas que as receitas TODAS do programa dela dão errado ao serem reproduzidas em casa! Depois de bater os olhos em otras receitas que mandam usar apenas fubá ou farinha de milho, descartei na hora, pois me alembro das minhas muié na cozinha debulhando milho verde na faca pra fazer sopa. Então finalmente achei uma receita, esta mandava separar os ovos e bater claras em neve. Achei estranho, mas parecia mais com a original.

Substituí os ingredientes de acordo com o que tenho aqui, então vamos lá, pra quem tá por esses lados e quer um gostinho de Pantanal (aliás, um gostinho de Mato Grosso do Sul) em casa...

2 latas de milho verde de 300 g (a receita pede 4 espigas de milho verde)
3 ovos separados
2 cebolas picadas (eu prefiro fatiar)
1 copo de água
1 copo de leite
6 colheres de fubá fino (cmprei fubá pra polenta na loja da chinesa)
1 colher de fermento em pó
2 colheres de manteiga
1 prato fundo de queijo (eu usei o queijo pra pizza, picadinho, que vendem aqui. Mas se tiver queijo minas, ele é o original na Sopa Paraguaia Autêntica)

Comece picando as cebolas e refogando-as na manteiga, com sal, até que estejam bem molinhas. Então adicione a água e cozinhe até que as cebolas estejam quese desfeitas, como aí na foto.










Reserve e deixe esfriar. Bata o milho com o leite e as gemas no liquidificador. Não bata demasiadamente, deixe ficar com pedaços grandes de milho. Então, despeje esta mistura nas cebolas já frias. Acrescente o fubá e o fermento e mexa bem, pra incorporar. Essa é também a hora de testar e ajustar o sal. Então bata as claras em neve, e acrescente primeiro metade. Mexa com uma colher de pau de baixo pra cima, delicadamente. Acrescente o resto das claras e incorpore, de leve. Despeje a mistura pronta em forma untada com manteiga. Asse em forno médio (ou 180 graus) por aproximadamente 40 minutos, ou até que esteja dourado por fora. Teste o meio, pra ter certeza que esta cozida.

Antes e depois de assar... Nham-nham!


E o resultado final ficou excelente, embora não remeta à sopa paraguaia a que estou acostumada. A das minhas muié ficava mais firme, ao passo que essa formou uma delicada crosta por fora (em toda a extensão) e ficou com uma consistência de souflê por dentro. Ficou deliciosa, a casa ficou com um cheiro delicioso, comemos muito, mas sobrou à beça. E hoje comeremos de novo.


Se tem algum sul-matogrossense por aí, faça a caridade de me mandar uma receita de sopa paraguaia local, mesmo que a receita seja em pitadas, punhados... Por favor, quero aquela sopa que se sobrar fica ainda mais gostosa no dia seguinte, mais firminha! Tô doida!

Fica aqui uma homenagem àquela gente pantaneira... Saudade brava, da boa!



3 comentários:

Claudia disse...

Camila,

eu sou louca por sursild, comemos sempre, mas nunca fiz, compro pronto e adoro os que eu acho por aqui. E torta de mirtilos nem se fala...

Bj,

C.

Camila Hareide disse...

Claudia, a torta ficou dos deuses! Você nem imagina como ela terminou rápido - o olha que o Lars não é muito de doce, a formiga de casa dou eu!

Também adoro sursild, mas o que fiz ficou mais gostoso! Experimenta, porque é muito fácil! E ainda dá pra variar nos temperos...

beijo

Tietta Pivatto disse...

Hahaha!!!! Essas fotos foram uma sacanagem com a gente!!! Ô saudade boa! Vou ver se descolo uma receita da sopa pra você, aqui de Bonito, ok?

Beijos,

Tietta