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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Frenesi de peixe, e uma vontade argentina

Nessa última semana, por causa da pescaria, mas também por causa da descoberta de uma peixaria de verdade, perto da casa do irmão do Lars. Tem maior variedade de peixes - e cortes. Estivemos lá semana comprando bacalhau fresco, porque eu tava com vontade de comer - ironia, não imaginava que íamos pescar um monte de bacalhau no fim de semana! Enfim, compramos o bacalhau, e também um belo pedaço de truta defumada. É truta marinha, ela tem quase o mesmo tamanho, exatamente a mesma cor, do salmão. A diferença é que eu acho o sabor dela mais delicado, não é tão peixenta quanto o salmão.

Compramos também um potinho de seilaks, que na verdade é o peixe sei salgado, e depois conservado em óleo. É uma delícia. O sei salgado, quanto mais tempo fica preservado, mais avermelhado vai ficando. Hoje em dia, como a salga não é mais um processo fundamental da alimentação (porque existem geladeiras e freezers), o sei não fica tão vermelho, então usa-se corante vermelho. O peixe fica bem vermelho, é um pouco bizarro - mas é gostoso.


Resistimos à tentação de comprar um pote de kaviar de bacalhau também natural. A pasta de ovas não industrializada tem uma cor de café com leite, contra a cor salmão do kaviar industrializado, vendido em tubos. Além disso, na peixaria vendem também bacalhau seco (pelo triplo do preço que paguei na feira local de Styrkesnes), outros peixes secos ou preservados, como makerel, e, pasmem, ovos de gaivota. São uma iguaria, ao menos aqui nesta região. Não tenho coragem... E sempre que os vejo à venda, não estou com a máquina fotográfica.

Outra bizarrice culinária aqui da Noruega (e isso acho que é no país todo, pois vejo na TV da mesma forma)... Os camarões deliciosos que são vendidos aos montes em todos os lugares, são SEMPRE pré-cozidos! Nem nos barcos de pesca que vem do mar - porque eu e Lars, quando queremos camarão, vamos ao pier comprar direto nos barcos - eles são crus. Acho muito frustrante isso... E eles sempre vem com cabeça. Às vezes separo um pouco das cabeças pra fazer caldo de camarão e congelar. Enfim, outro dia - aliás, na véspera do casamento - eu tinha um camarão congelado, e uma sobra de purê de abóbora (vocês não imaginam a alegria que foi no dia em que achei abóbora na loja chinesa! Fiz até doce!!!), e resolvi fazer uns bolinhos de camarão. Bati o camarão cozido e limpo no processador com meia cebola pequena e um pouquinho de dill fresco, mais tabasco e uma colherinha de mostarda com ervas de Provence. Fui misturnado o purê de abóbora à mistura, até ter umaconsistência moldável. Ajustei o sal, forrei uma forma com papel manteiga e coloquei no forno até dourarem - veja bem, tudo já estava cozido, não era necessário cozimento. Foi rápido... Aprontei a comida e saí pra comprar as flores do casório. Quando voltei, Lars tinha traçado mais da metade da assadeira... Ficaram deliciosos, e diferentes. Aí na foto, antes de assarem.


No fim de semana, e durante essa semana, comemos bastante sei fresco. Quando o peixe está pequeno para cortar os filés, eles cortam em postas, e a maneira tradicional de comê-los por aqui - ao menos aqui, na MINHA parte da Noruega, é a seguinte: o peixe cortado em postas é cozido em água com um pouquinho de vinagre e folhas de louro, servido com batatas, flatbrød (o pão sueco) e rømme (creme azedo, tipo o sour cream americano), além disso na mesa tem a manteiga, o sal e a pimenta do reino. Muito frugal, e um pouco insosso, digamos assim, mas é autêntica comida tradicional, de comunidades pesqueiras, consumida dessa forma desde antigamente. O que sempre me encanta nessa cena é que os meus noruegueses comem esse prato simples com uma voracidade impressionante! Como se estivessem traçando um prato extremamente saboroso e voluptuoso. Acho mesmo que o hábito faz o monge, e por isso me sinto uma verdadeira Babette aqui...

E não é que eles não gostem de comidas diferentes, muito pelo contrário. Acho que a questão é mesmo a falta de hábito, e de conhecimento... Cada vez que uso um ingrediente que seja alicerce da dieta deles (como bacalhau fresco ou sei fresco, por exemplo), eles se deleitam ao comer! Já eu não poderei olhar o tal sei cozido por algumas semanas. É preciso realizar uma verdadeira cirurgia nas postas cozidas para remover os ossos e pele, e quando você termina, o peixe está frio... As sobras podem ser comidas no dia seguinte, mas o que muda é o peixe é consumido gelado, sem as batatas dessa vez, mas com uma salada de pepino temperado com vinagre e açúcar.

E pra quebrar esta monotonia de sabores, ontem fiz empanadas argentinas. Porque raios uma brasileira expatriada tem vontade de comer empanadas argentinas, devem se perguntar alguns... É que cresci na Vila Madalena, em São Paulo, perto do antigo Martin Fierro, que era onde é hoje o Empanadas Bar. E o Martin Fierro era só isso mesmo, um bar de empanadas (que vendia alfajores fabulosos), de donos argentinos. Foram crescendo, crescendo, venderam e abriram um restaurante de carnes algumas quadras pra baixo, da Rua Wizard para a Rua Aspicuelta.

Então, eu cresci comendo as tais empanadas, e aliás, poucos no Brasil são capazes de reproduzir o sabor daquelas ali... Depois, em minha viagem à Argentina em 2004 descobri que não são apenas empanadas argentinas, mas são um marco de cada região argentina... Empanadas mendocinas, juaninas, saltenas, e por aí afora. Há também as empanadas chilenas, um caso à parte, mas emapanda é empanada, né? Saía em San Juan, Puerto Rico com minha roomie chilena Claudia pra comer empanadas de camarón (e sabe que as empanadas fritas são praticamente idênticas ao nosso pastel? Fica aí a dica aos expatriados - emapandas chilenas fritas pra matar vontade de pastel! - caso vc encontre um rstaurante chileno ao invés de brasileiro... Nunca se sabe!), sem contar todos os buracos cucarachos no centro de Miami que vendem empanadas. Mas nenhuma NUNCA tão boa como as do Martin Fierro, de Sampa...

Pois bem, estava eu assistindo meu atual favorito show de culinária, o The Hairy Biker Ride Again (a terceira temporada do Hairy Biker's Cookbook), e os dois malucos estavam em Buenos Aires. Depois de muito aprontarem e dançarem tangos com a sutileza de dois elefantes, eles foram a La Boca fazer empanadas. Assistindo, lágrimas chegaram a escorrer dos meus olhos. E parecia tão simples... Mais ficou nisso mesmo.

Lars chegou mais cedo do trabalho, e estávamos morgando no sofá, e a tv ligada ainda no BBC Lifestyle, e começa o show de culinária do Ainsley Harriot. Onde ele está? ARGENTINA!!! E fazendo o quê? EMPANADAS - de frango... Então Lars olhou pramim com aquela cara... Disse "Parece ser muito fácil fazer a massa...". E assim, quase sem mais palavras, levantamos, calçamos os sapatos e fomos ao mercado. Comprei carne (de verdade, não a falsa carne moída que eles vendem aqui, que é um horror de gordura), páprica picante, mais ovos, azeitonas... E depois do almojantar fomos para a cozinha. Segui a receita daqui, e deu muito certo. Rendeu 10 empanadas, que não ficaram lindas, mas ficaram deliciosas, QUASE como as do Martin Fierro. Comemos 9 ontem mesmo, assistindo mais programas de culinária à noite... A última acabamos de dividir, e ficou ainda mais gostosa hoje...

E agora estou às voltas com os bolinhos de bacalhau que prometi à sogra pra o almojantar de amanhã. Dessalguei metade do bacalhau seco que comprei no fim de semana. Os pedacinhos do lombo vou usar para fazer uma salada de bacalhau com feijão (originalmente fradinho, mas como aqui não achei, vou usar o branco mesmo) do bar São Cristóvão, também na Vila Madalena. O restante vai virar bolinho. Ando agora pesquisando receitas de bolinhos de bacalhau decentes... Wish me luck!

2 comentários:

isabelbutcher disse...

ueba!
ótimo. vou freqüentar esse aqui também!
Bjs

Unknown disse...

ai, que fome!